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Poeta das retas e das curvas

Quando o projeto do Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo chegou à mesa da comissão julgadora da Chamada Pública de Patrocínio no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de São Paulo (CAU-SP), em julho de 2014, rapidamente foi possível perceber que se estava diante de uma proposta ousada e essencial à história da profissão e do País nas últimas décadas. De fato, fazer um site sobre a vida, a obra e a influência de Vilanova Artigas, um dos mais importantes nomes da arquitetura brasileira em todos os tempos, seria um desafio e tanto. Pela qualidade e pela inovação técnica de seu trabalho, mas também por conta do impacto que causou e continua causando nas novas gerações de arquitetos e urbanistas, que descobriram a importância de transformar a sociedade com seu trabalho.

Professor articulado, líder eloquente, militante de esquerda e profissional engajado, João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba, no Paraná, mas se tornou um dos principais expoentes da arquitetura paulista dos anos 1960 e 1970, ao lado de profissionais como Lina Bo Bardi, Rino Levi e Oswaldo Bratke. São de sua autoria obras como o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Universidade de São Paulo (FAU-USP), projetado com Carlos Cascaldi, a antiga Estação Rodoviária e atual Museu de Arte de Londrina (PR), e o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, entre quase 700 projetos, que o tornaram o arquiteto brasileiro mais premiado pela União Internacional dos Arquitetos, no século XX.

Mas ele não se limitou às obras. Projetou também ideais. Desenhou e igualmente escreveu, registrando no papel suas posições como cidadão e intelectual. Foi o principal elaborador da arquitetura progressista, com forte viés nacionalista e desenvolvimentista. E levou esse pensamento para a FAU, da qual foi um dos fundadores, reformando o currículo a partir da clareza e da força ideológica dos conceitos de projeto e desenho. Fugindo das teorias arquitetônicas tradicionais, trouxe o debate para uma dimensão ética, política e social, correlacionando teses com realizações concretas. “Estética com ética e ética com estética”, mais do que um jogo de palavras, era a declaração de que o projeto é um desígnio, intento, demonstra a soberania; e o desenho – não a representação, mas no contexto do inglês design – deve refletir essa vocação transformadora.

Alguns desses princípios e ideais foram decisivos para que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo se tornasse uma realidade. Criado no fim de 2010, após mais de 50 anos de luta, pela Lei número 12.378, o CAU permitiu que profissionais antes restritos em um conselho multiprofissional e que contava com mais de 300 modalidades de engenharia e outras profissões, além da arquitetura, finalmente, tivessem seus anseios e causas melhor atendidos na própria casa. A partir daí veio a criação do SICCAU (Sistema de Comunicação e Informação do CAU), permitindo estruturar o atendimento online a mais de 50 mil profissionais só em São Paulo, a aprovação do Código de Ética e Disciplina, a realização da 1ª Conferência Estadual de Arquitetos e Urbanistas e a montagem de dez sedes regionais por todo o interior paulista.

Um começo cheio de dificuldades, mas extremamente gratificante. E para o qual a vida de Artigas serviu de exemplo e inspiração. É notória sua posição contra a ditadura militar, que levou até a seu afastamento da FAU. Quando voltou a lecionar na instituição, em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia, passou a dar aulas de Estudos de Problemas Brasileiros, disciplina criada pelo regime como instrumento de controle ideológico. Durante o curso, não apenas subverteu o programa clássico, como levou à faculdade diversos artistas, políticos e intelectuais de esquerda, como o pintor Aldemir Martins, o ator Juca de Oliveira e o então cardeal-arcebispo de São Paulo D. Paulo Evaristo Arns. Patrocinar este projeto, que agora é uma realidade, mais do que recordar essas histórias é um lembrete e um desafio para buscar a mesma ousadia. E, por que não, um pouco de poesia. Afinal, como dizia, o velho mestre: “O que os poetas dizem com palavras, a gente exprime com milhares de tijolos”.

CAU/SP - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo

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