crítica // O ESTADO DE S. PAULO

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Documentário oferece retrato sobre Vilanova Artigas, um pensador urbano
(para ler no site do jornal http://bit.ly/1h4clzZ)

Completaram-se em junho 100 anos do nascimento de João Batista Vilanova Artigas e, como parte das comemorações, estreou o documentário 'O Arquiteto e a Luz'

Completaram-se em junho 100 anos do nascimento de João Batista Vilanova Artigas. Como parte das comemorações estreou o documentário Vilanova Artigas – O Arquiteto e a Luz, de Laura Artigas e Pedro Gorski. Centenário de nascimento e 30 anos de morte. O filme une depoimentos e material de arquivo. E, se é verdade que um arquiteto sobrevive através de sua obra, é interessante ver o que os usuários falam de importantes prédios criados por Vilanova Artigas – o Estádio do Morumbi, o Edifício Louveira, a FAU/USP.

O Arquiteto e a Luz nasceu com o título provisório de As Cidades como as Casas, as Casas como as Cidades. A codiretora Laura é neta do arquiteto e a família tornou disponível material inédito. O laço afetivo é muito forte. Entre os que conviveram com Vilanova Artigas e dão depoimentos, estão os arquitetos Ruy Ohtake e Paulo Mendes da Rocha e o jornalista Armênio Guedes, que foi seu companheiro de militância comunista. O filme viaja no tempo para reconstituir sua trajetória em Curitiba, o aprendizado com Prestes Maia e as primeiras casas. E mostra como ele sempre esteve adiante do seu tempo. Até pelo engajamento ideológico, preocupava-se com a questão da melhoria social e urbana. Pensou a arquitetura e o urbanismo como instrumentos de transformação das cidades, e seu reflexo – a qualidade de vida das pessoas.

Pode-se viajar nas elucubrações do tipo ‘o que ele acharia das transformações que estão sendo feitas nas paisagens do Rio e de São Paulo?’ O Rio está sendo remodelado para a Olimpíada do ano que vem. Pode até ser que o novo Centro, formatado para o pedestre, venha a atingir seu objetivo, mas a cidade em obras, como espaço provisório, virou o inferno na Terra (e olhem que o Rio, por sua beleza, teria tudo para ser um paraíso). São Paulo também está sendo redesenhada – para o ciclista, que, por enquanto, é domingueiro (mas o trânsito é de todo o dia). Preocupado com a mobilidade urbana, tudo indica que Vilanova Artigas, de qualquer maneira, seria crítico com a formatação da cidade para o carro e um planejamento urbano que não levasse em contas o social e o ambiental – o politicamente ecológico.

Como arquiteto e cidadão, Vilanova Artigas preocupava-se com a mudança. O engajamento político levou-o a ser perseguido durante a ditadura. Tudo isso está no filme. A construção do Edifício Louveira, em Higienópolis, é lembrada por se tratar de uma das obras mais características do arquiteto. Por sua beleza – e fotogenia –, virou cenário de filmes, séries. Mas Laura tem uma relação curiosa com o prédio projetado pelo avô. “Ele não tem grades, é um delírio de liberdade e de luz. Virou a exceção nessa São Paulo de hoje”, ela reflete. A luz não está no título por acaso. É personagem do filme como da obra do arquiteto.
Filmes sobre arquitetura (e arquitetos) foram sempre uma raridade no cinema brasileiro, mas nos últimos anos as próprias famílias têm contribuído para reverter esse quadro. Além de Laura Artigas com O Arquiteto e a Luz, houve recentemente o caso de Bernardes, em que o neto de Sérgio Bernardes, o arquiteto Thiago Bernardes, com a ajuda dos cineastas Paulo de Barros e Gustavo Gamas Rodrigues, tenta responder à pergunta sobre o que motivou o ostracismo do grande Sérgio.

Nesse caso, a trajetória de Sérgio foi (quase) antagônica à de Vilanova Artigas. Sérgio contribuiu com obras para o regime militar, e isso deixou-o em situação delicada. Mas ele próprio, no fim da vida, se definia como inventor social (e não arquiteto) e isso o aproximava de Vilanova. Para fechar, estreia no dia 6 Obra, de Gregório Graziosi. É uma ficção que estabelece diálogo com esses filmes, sobre a arquitetura de São Paulo (e os negócios escusos envolvendo grande empreiteiro).

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