Crítica // Folha de S. Paulo
29.07.2015 – documentário
Filme sobre vida do arquiteto reabilita a FAU como joia do modernismo nacional
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO 23/06/2015 02h45
Nada substitui caminhar por um prédio quando a ideia é conhecer sua arquitetura. No caso da obra de Vilanova Artigas, arquiteto que repensou noções construtivas com audácia ímpar, essa afirmação é ainda mais verdadeira.
Nesse ponto, o documentário "O Arquiteto e a Luz", realizado por ocasião do centário do autor por sua neta Laura Artigas tem como maior mérito descortinar alguns dos ambientes mais emblemáticos criados pelo modernista.
Sua câmera desliza pelo salão caramelo, o ponto nevrálgico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, os pilares em forma de flor da rodoviária de Jaú, no interior paulista, e por salas atravessadas pelo sol de algumas das casas erguidas em São Paulo.
Fora a beleza dessas tomadas, que põem o espectador de forma impressionante dentro da escala pensada pelo arquiteto, o filme narra tudo de modo bastante convencional –nascimento, vida e morte.
Também prevalece o tom laudatório, com amigos tecendo elogios ao arquiteto, algo que talvez não fosse preciso dado seu reconhecimento.
Nas entrelinhas, no entanto, há certo ressentimento. Grande parte do filme narra a perseguição sofrida pelo arquiteto na ditadura, deixando nítido que para a família essas feridas não cicatrizaram –Artigas, aliás, morreu no início do ano da reabertura democrática, sem chance de ver o país voltar à normalidade.
Outro ponto forte do filme é reavivar a memória do arquiteto como personalidade única, um homem de sintaxe exuberante, que misturava português e francês, e zero falsa modéstia –ele chega a descrever seus prédios como poemas.
Maior poema de todos, a FAU, que acaba de ser restaurada, ganha no filme um registro contundente, à altura de sua ousadia arquitetônica. A visão da escola reabilitada à condição de joia moderna já vale pelo documentário.
O ARQUITETO E A LUZ * (BOM)
QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (25), NAS SALAS ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA PRODUÇÃO: BRASIL, LIVRE
DIREÇÃO: LAURA ARTIGAS